Por Renata Amaral
Fotos de Mari Chamon
Cid Benjamin e Sylvia Moretzsohn na mesa de abertur |
O dia não era dos melhores. O
desastre com o vôo da Lamia que levava o time da Chapecoense para a final da Copa Sulamericana, na noite do dia anterior, havia mexido com o coração de todos: dos amantes
de futebol, a quem nunca chutou uma bola. Setenta e um mortos. A primeira mesa do Controversas, na
terça-feira, 29 de novembro, contava justamente com dois apaixonados por esporte. Por conta da
tragédia, um deles, o jornalista Caio Barbosa, do jornal O Dia, teve de cancelar sua
participação às pressas. A professora Sylvia Moretzsohn, que trabalhou na editoria esportiva
durante anos, era a mediadora do debate sobre a cobertura do Impeachment, e
aproveitou para abrir o evento com uma homenagem ao time de Chapecó. A professora da leu uma série de textos de apoio divulgados no Facebook antes de passar a palavra ao convidado Cid Benjamim. Mas nem toda a comoção seria capaz de conter a língua afiada da
professora quando o assunto é o governo: ela não demorou a dar início às
críticas à política nacional.
Definindo a si mesmo como “uma pessoa de esquerda que quer aprofundar a
democracia”, o jornalista Cid Benjamin não hesitou em fazer comparações entre a atual situação política e a da época de ditadura militar, quando chegou a ser
preso e exilado. “(Na época da ditadura) Muitas
vezes não se fazia o lead pela crítica direta ao governo. Fazia pela resposta à
crítica. Nos últimos tempos, temos visto uma
chuva de manipulações, mas estas se dão não mais pela censura, mas pela edição”, disse Cid.
Diante da Sala InterArtes lotada
por alunos de Jornalismo da UFF, o jornalista disse que as forças envolvidas nos debates ainda são desiguais. Enquanto alguns, como ele, têm o poder de falar para centenas pessoas esclarecidas e dispostas a ouvir, outros, como o apresentador William Bonner, discursam diariamente na televisão para mais de 60 milhões de
brasileiros. O jornalista não teve papas na língua ao fazer críticas ao governo de
Michel Temer: “O programa que o PMDB chama de Ponte para o
Futuro é, na verdade, um trem bala para o passado!”, disparou.
Plateia assiste com interesse o bate-papo |
Depois de abordar o
papel exercido pela mídia durante o golpe, Cid Benjamin abriu uma nova frente
de debate: a conversão da TV analógica para a digital. A mudança de tecnologia
abre novas possibilidades de concessões para canais abertos. Para ele, este
será o momento exato de criar uma nova frente midiática para contestar e
confrontar os grandes monopólios do setor. Para ele, trata-se de uma tarefa absolutamente importante. "Talvez a mais importante em efeitos imediatos”, afirmou.
Cid Benjamin entrou na questão após abordar a força de poucas
famílias no comando da mídia. O convidado foi bastante enfático quanto ao monopólio
midiático brasileiro: “É uma máquina de fazer cabeça. De fortalecer uma cabeça
política!”.
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